Nasceu no Porto no ano do regicídio, em 1908, e morreu a 2 de Abril de 2015. O homem que todos achavam ser eterno morreu sem que se esperasse, apesar dos sinais que a idade já avançada dar.
Manoel de Oliveira viveu períodos completamente diferentes da história portuguesa e da história mundial. Foi o homem de todos os tempos e sua história bem que poderia ser uma epopeia. Mas não; é uma história da vida real: a sua. Nasceu a ver o rei D. Carlos ser assassinado, e ainda só palrava quando assistia-se, sem saber, a um momento história: a queda da monarquia e o nascimento da jovem República. . Viveu 26 anos de republicanismo e observou de longe o golpe militar, chefiado por Gomes da Costa, que acabou por instaurar uma ditadura militar no país. Mergulhou no salazarismo e lá viveu afogado quase 50 anos. Foi preso pela PIDE. Viu o homem chegar à lua, com 60 anos.
No verão dos seus 5 anos vê o mundo virar-se de pernas para o ar e cair na Primeira Grande Guerra Mundial. Como explicar a uma criança que os sons que ouvia eram de armas que matavam pessoas por um bocado de terra? O mesmo não acontece na Segunda Grande Guerra, onde Manoel de Oliveira já vivia o agitado mundo adulto. Tinha 30 anos. É neste período que dá à luz uma das suas maiores obras: Aniki Bóbó.
Ainda em criança correu os perigos das corridas de automóveis, fez atletismo e até natação. Mas o seu grande amor era o cinema e foi esse amor que respeitou sempre, nunca lhe tendo colocado barreiras ou opiniões feitas.
Quando tentaram mudar a sua obra, ele manteve-se fiel à mesma. à sua lentião, aos planos estáticos e longos, aos diálogos que desnorteavam quem os via, muitas vezes longos e inoportunos. Foi sempre fiel à obra, sempre. Até morrer.
No cinema, o seu maior amor, também o viu mudar com os anos. O mudo ganhou voz e o preto ganhou cor. As técnicas eram outras, as câmaras e as películas modernizaram-se e existia agora os efeitos especiais - novos tempos; novos instrumentos.
Manoel de Oliveria também assistiu na primeira fila ao aparecimento do digital, do Youtube e das redes sociais. Viu o cinema mudar em todas as formas. E adaptou-se. Sempre. Até à morte.
Com todas guerras que pôde ver o mundo viver, todas as mudanças que sofreu nos 106 em que viveu, era, ironicamente, a falta de tempo que o fazia tremer de medo. Queria ter tempo para fazer filmes e mais filmes. Dizia que o tempo passava demasiado depressa e, realmente, sempre conseguiu fintá-lo e cá esteve, mais de um século. Mostrou ao tempo que ele é comandava o seu destino e comandou, sempre diferente de todos.
Mas ninguém é eterno e Manoel tinha de voar um dia. E voou, triste por não fazer mais filmes, mas feliz, porque, como disse um dia, na morte está a paz, porque na vida está todo o mal; na morte não.
Já não vai estrear um filme de ano a ano, mas todos os anos será lembrado: o cineasta que não queria ser artista e que via no mundo muito mais do qualquer um que vive meio século viu algum dia.
Fica a obra extensa - mais de 50 filmes, muitos prémios, mas acima de tudo fica o Mestre. A pessoa. Fica Manoel de Oliveira.
Manoel de Oliveira viveu períodos completamente diferentes da história portuguesa e da história mundial. Foi o homem de todos os tempos e sua história bem que poderia ser uma epopeia. Mas não; é uma história da vida real: a sua. Nasceu a ver o rei D. Carlos ser assassinado, e ainda só palrava quando assistia-se, sem saber, a um momento história: a queda da monarquia e o nascimento da jovem República. . Viveu 26 anos de republicanismo e observou de longe o golpe militar, chefiado por Gomes da Costa, que acabou por instaurar uma ditadura militar no país. Mergulhou no salazarismo e lá viveu afogado quase 50 anos. Foi preso pela PIDE. Viu o homem chegar à lua, com 60 anos.
No verão dos seus 5 anos vê o mundo virar-se de pernas para o ar e cair na Primeira Grande Guerra Mundial. Como explicar a uma criança que os sons que ouvia eram de armas que matavam pessoas por um bocado de terra? O mesmo não acontece na Segunda Grande Guerra, onde Manoel de Oliveira já vivia o agitado mundo adulto. Tinha 30 anos. É neste período que dá à luz uma das suas maiores obras: Aniki Bóbó.
Ainda em criança correu os perigos das corridas de automóveis, fez atletismo e até natação. Mas o seu grande amor era o cinema e foi esse amor que respeitou sempre, nunca lhe tendo colocado barreiras ou opiniões feitas.
Quando tentaram mudar a sua obra, ele manteve-se fiel à mesma. à sua lentião, aos planos estáticos e longos, aos diálogos que desnorteavam quem os via, muitas vezes longos e inoportunos. Foi sempre fiel à obra, sempre. Até morrer.
No cinema, o seu maior amor, também o viu mudar com os anos. O mudo ganhou voz e o preto ganhou cor. As técnicas eram outras, as câmaras e as películas modernizaram-se e existia agora os efeitos especiais - novos tempos; novos instrumentos.
Manoel de Oliveria também assistiu na primeira fila ao aparecimento do digital, do Youtube e das redes sociais. Viu o cinema mudar em todas as formas. E adaptou-se. Sempre. Até à morte.
Com todas guerras que pôde ver o mundo viver, todas as mudanças que sofreu nos 106 em que viveu, era, ironicamente, a falta de tempo que o fazia tremer de medo. Queria ter tempo para fazer filmes e mais filmes. Dizia que o tempo passava demasiado depressa e, realmente, sempre conseguiu fintá-lo e cá esteve, mais de um século. Mostrou ao tempo que ele é comandava o seu destino e comandou, sempre diferente de todos.
Mas ninguém é eterno e Manoel tinha de voar um dia. E voou, triste por não fazer mais filmes, mas feliz, porque, como disse um dia, na morte está a paz, porque na vida está todo o mal; na morte não.
Já não vai estrear um filme de ano a ano, mas todos os anos será lembrado: o cineasta que não queria ser artista e que via no mundo muito mais do qualquer um que vive meio século viu algum dia.
Fica a obra extensa - mais de 50 filmes, muitos prémios, mas acima de tudo fica o Mestre. A pessoa. Fica Manoel de Oliveira.